excerto do trabalho:
Complexidades & Contradições
Não – Lugares
Introdução a uma Antropologia da Sobremodernidade
Marc Augé
&
Rem Koolhaas
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O não-lugar é um conceito proposto por Marc Augé, para designar um espaço de passagem incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade – tema que reflecte nas suas elaborações as preocupações com a questão do lugar – que emerge nos debates dos arquitectos, urbanistas e paisagistas.
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O não-lugar é completamente oposto ao espaço personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação, lugares de ausência em si mesmo, de experiencias ‘silenciosas’. Só, mas junto com outros, o habitante do não-lugar mantém com este uma relação contratual representada por símbolos da sobremodernidade: cartões de crédito, passaporte, carta de condução, enfim, por símbolos que permitem o acesso, comprovam a identidade, autorizam deslocamentos impessoais. Lugares e não-lugares buscam o verbo repensar ou a ausência deste.
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Na argumentação de Marc Augé, são citados como não-lugares, os aeroportos, supermercados, vias-expressas e outras estruturas que caracterizam as cidades actuais.
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Koolhaas faz uma análise do resultado urbano da sobremodernizaçao criando o conceito de junkspace, espaço-lixo, para definir o excesso da construção. Entende que a nossa história é feita de grandes obras, mas não devemos subentender obviamente que toda a construção do presente se trata de lixo.
Junkspace engloba o espaço fragmentado que procura uma continuidade, mas mais especificamente, define uma construção reflectida do pós-modernismo/ supermodernismo, reflectida no consumo, na velocidade, no excesso…
Mais do que nunca, a arquitectura do junkspace, ou dos não-lugares, é subjectiva e uma mesma imagem pode revelar-se diferente de acordo com diversos pontos de vista.
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Mas… serão estas obras de Rem Koolhaas exemplos de não-lugares?
Estas acompanham manifestamente a velocidade, o prazer da experiência superficial das intensidades, para além da exacerbação do fluxo de imagens proporcionado pelas actividades que abriga, serão então não-lugares?
Mas estas são tidas para criar sedução e interesse, funcionam com emoções, com um contexto, com uma sintonia de identidades (embora transitórias). Continuarão estas obras a ser tratadas como não-lugares? Para alguns, estes lugares permitem que se desenvolva um sentido de identidade e personalidade atrelado a um contexto…
A mudança de sensibilidade que ocorre hoje (por via de vários factores já referidos), determina o que o individuo toma por não-lugar…