quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lisbon story
Livro de viagem


_____________________________________________________________________ Partida de Coimbra, GPS a funcionar e lá vamos nós a caminho de Lisboa…
Chegada a Lisboa – ‘onde é a LX Factory?! ‘ Após perguntar a várias pessoas, finalmente encontrámos! Uma entrada fantástica, uma entrada obrigatória que remete de imediato à curiosidade, desperta instantaneamente um aguçado turbilhão de sensações...


Entrada na exposição… Uma exposição retrospectiva sobre o trabalho do arquitecto suíço Peter Zumthor.
São-nos dados a conhecer 29 projectos criados por Zumthor, 12 deles apresentados através de instalações com filmes que passam em tempo real, a experiência física de percorrer os espaços por ele desenhados.
Autor de um conjunto de obras surpreendentes pelo seu desenho meticuloso, coerência e qualidade conceptual – não há dúvida, para quem aprecia arquitectura, causa, sem dúvida um grande impacto, e pessoalmente, dá uma
vontade enorme de um dia ser um pouco como ele...
De imediato somos deparados com um conjunto de maquetas a uma grande escala, que transmitem de imediato, grandiosidade, complexidade e sem dúvida, um indiscutível bom gosto…

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Alguns dos trabalhos numa primeira parte da exposição.

Pavilhão Suíço, 2000


Topografia do terror, 1993-2004

Paisagem poética, Alemanha

Museu Kolumba
(curiosamente permite ás crianças entrar lá dentro)
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De seguida, a instalação vídeo, exibida em seis ecrãs e à escala real, que recria de forma envolvente alguns edifícios de Zumthor, bem como o seu contexto, incluindo sons, aspectos climáticos como a chuva, o sol e os movimentos dos seus habitantes.
Uma nova forma de mostrar e ver arquitectura num contexto expositivo.

Uma experiência diferente e muito agradável, mas dispõe de muito tempo de observação (não podia exceder-me no tempo).


Seis câmaras estáticas, direccionadas simultaneamente para seis pontos de um edifício, produzem um fluxo constante de imagens nas quais a estrutura surge, frequente e aleatoriamente, como fazendo parte das imediações ou enquanto cenário espacial para uma situação vivida ou recriada no interior na sua projecção simultânea.
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Um impressionante agregado documental: desenhos, esquiços, plantas e maquetas. Para além de sistematizar a sua produção mais recente, a exposição oferece um olhar único e revelador sobre o processo criativo, lógica programática e metodologia de trabalho de Peter Zumthor.

E aqui começa, a meu ver, o mais interessante da exposição…
É um privilégio poder estar em contacto com o processo criativo de Zumthor, e abordar a forma como trabalha e desenvolve meticulosamente as ideias desde o estádio embrionário até à fase de implementação, ilustrando as lógicas de concepção, formulação e teste que estruturam todo o seu percurso criativo.






Seguem-se alguns apontamentos fotográficos e descritivos de algumas das obras do arquitecto _ aquelas que mais me fascinaram e seduziram de imediato.




Topografia do terror, exposição internacional e Centro Documental, Berlim; 1993 – 2004


“ Vigas de betão são unidas em cruz para formar uma estrutura de barras. Nos pontos de intersecção as barras são unidas, formam-se estruturas rígidas…através do alinhamento das estruturas, cuja forma varia, formam-se espaços diversos. Tudo é estática, construção, estrutura. Os espaços intermédios entre as barras são preenchidos com vidro. Tudo é transparente.” (…)

Excerto de texto retirado da exposição





Termas de Vals, Graubünden; 1996


“ (…) um novo grande edifício que integrava as termas e novos quartos (…)revelou-se demasiado dispendioso (…)
Em 1994, deu-se inicio à construção que foi inaugurada em Dezembro de 1996. Desde então, as termas recebem mais de 140 000 visitantes por ano (…) O corpo dos banhos é uma construção portante composta por betão e finas placas de ‘gneis’ de Vals extraídas e talhadas na
pedreira, por detrás da aldeia.(…)”

Excerto de texto retirado da exposição





Museu da Mina de Zinco Almannajuvet, Saúda, Noruega; 2003-


“ (…) quatro construções simples em madeira; um edifício de serviços junto ao parque de estacionamento, uma recepção, que também pode ser utilizada como sala de reuniões, um pequeno museu (…=
O percurso ‘histórico’ da mina conduz os visitantes (…) através de um trilho rochoso e pequenas pontes de madeira (…)


Excerto de texto retirado da exposição




Restaurante de verão, Ilha de Ufnau; 2003

“ (…)
O projecto consiste em três elementos básicos: uma grande cobertura em madeira, um monólito enterrado no solo que contém os serviços do restaurante (…) e uma plataforma de madeira envolvida por painéis de vidro rotativos. (…)
Um jardim de saibro, com longas mesas e bancos em madeira ensombrados por árvores, em parte pré-existente, liga a nova construção às antigas quintas no centro da ilha, à casa barroca do caseiro e ao celeiro. (…)


Excerto de texto retirado da exposição



Capela rural Bruder Klaus, Wachendorf, Eifel; 2007

“ (…)
O interior da capela foi formado por 112 troncos de árvore dispostos em forma de tenda.
Em volta desta tenda de madeira e ao longo de 24 dias de trabalho cresceu, camada sobre camada, o corpo da capela em betão, com uma espessura de 50cm que cobriu a estrutura de madeira. No Outono de 2006, manteve-se durante três semanas, uma fogueira em combustão lenta no interior da tenda (…) o chão da capela é de chumbo, derretido no local (…)

Excerto de texto retirado da exposição

Relativamente às obras que se encontram na exposição, não me vou estender mais, todas elas têm um significado especial e algo que me agrada imenso, não acabaria a mostra destas e tornar-me-ia repetitiva e cansativa… fica assim um pequeno apanhado das obras que me causaram um grande fascínio à primeira vista…


Sensações pessoais:

É notável a carga emocional nas suas descrições, para além disso, Zumthor apela a uma consciência histórica muito determinada e rica em pormenores que saciam até o mais profundo leigo na matéria… a meu ver a sua arquitectura situa-se entre o foro “fenomenológico” e o estilismo “poético”.
Os espaços criados já são por si só objectos de contemplação, são a própria obra de arte…
Espaços que por si só inspiram um sentimento de transcendente. No fundo é isso que dignifica um espaço, e este é um exemplo de boa arquitectura. Porque acima de tudo o que é bom num museu, num auditório ou numa casa é aquilo que faz com que as pessoas se sintam bem, sintam o belo, sintam prazer, sensualidade, percebam algo de maior para além das propriedades físicas das paredes.

Um dos pontos fulcrais das suas obras e que salta à vista é sem dúvida a luz… a luz é trabalhada de uma forma fundamental e merece especial destaque pela forma como Zumthor cria uma modelação subtil da luz natural para o interior do edifício, conferindo uma atmosfera pacifica e desmesuradamente confortável e afável. Cada espaço tem um enorme carácter de aparente simplicidade, serenidade, sinceridade, entre muitos outros adjectivos… sinto que estou a descrever quase que um ser vivo, a sua linguagem expressiva é muito mais do que arquitectura…

"Para mim, os edifícios possuem um belo silêncio que eu associo com atributos como compostura, durabilidade, presença e integridade, bem como com o calor e a sensualidade. É bonito estar a fazer um edifício e imaginá-lo em total serenidade". (Atmosferas)

“Uma das ideias favoritas é a seguinte: pensar o edifício primeiro como uma massa de sombra e a seguir, como num processo de escavação, colocar luzes e deixar a luminosidade infiltrar-se. A segunda ideia preferida é colocar os materiais e superfícies, propositadamente à luz e observar como reflectem. Tenho de admitir que a luz do dia, a luz sobre as coisas me toca de uma forma quase espiritual. De manhã, quando o sol renasce – o que não deixo de admirar, é mesmo fantástico, volta todas as manhãs - e ilumina as coisas, surge então esta luz que não parece vir deste mundo! Não percebo esta luz. Tenho a sensação de que existe algo maior (…)” (Atmosferas)


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Após dissertação acerca d experiencia vivenciada na exposição, passemos agora à visita pela cidade de Lisboa, onde nesta fomos visitar algumas obras relevantes para o exercício. E, essencialmente, relevante a nível pessoal, visto que conhecia muito pouco de Lisboa e esta fora uma oportunidade de apreciar a capital numa perspectiva real e directa.
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A primeira obra com que depara-mos, foi a Casa do Alentejo. E qual o meu espanto quando a fachada me transmite o tão habitual, o tão tradicional… igual a todas as outras fachadas, o que aguçou mais a curiosidade, embora estivesse à espera de outra coisa…



De imediato essa curiosidade foi saciada, ao entrar e encarar uma escadaria que me guia em direcção a um ambiente tão confortável, cómodo e cativante.

Ainda um pouco embebida nas ‘atmosferas’ de Zumthor, a Casa do Alentejo, levou-me inesperadamente a comparar os ambientes… a luz, as sensações…enfim, senti-me deveras bem, no conforto dos sofás, nos objectos tão apetecíveis…

O estilo árabe é bastante demarcado, nos objectos, nos azulejos, nos arcos de ferradura que sustentam o edifício, no mobiliário que joga em harmonia perfeita com o ambiente, etc.…
Vem-nos à mente as mil e uma noites, e, concomitantemente, este transmite-nos mil e uma sensações…


A casa do Alentejo, um local onde todos os interessados podem usufruir da cultura da maior província do país, onde se dança, se escutam os cantares típicos e claro, também se come.
Vale a pena a visita!



E continuando o percurso, a pé, o edifício mais próximo é a Igreja São Domingos. (Bairro de São Domingos)




Destruída por um incêndio há quase 50 anos. A biblioteca ardeu completamente. Só se salvou a capela-mor da Sacristia. O seu interior foi objecto de limpeza, e, deste modo, conservando e valorizando a ruína – a fachada foi um dos elementos que não se destruiu…
A igreja denuncia claramente uma arquitectura barroca.


Agrada-me a sua grandeza e a riqueza de ornamentação. Pessoalmente, acho que os objectos degradados lhe conferem um toque até bastante especial. E sobretudo para os habitantes da capital, confrontam um carácter imensamente familiar, visto que destina a muitas recordações…

E após uma longa caminhada, sem largar o GPS claro, na praça Marquês de Pombal, avistámos lá no alto o Hotel Ritz – é notória a sua magnitude…

E num breve comentário: foi grande a emoção ao entrar num edifício de ‘tanta estrela’! E até cómica, diria eu, ao depararmo-nos com imensas pessoas tão bem vestidas, e nós…bem, nós estávamos de sapatilhas, tipicamente estudantes em trabalho!
Infelizmente não podemos passar para além da recepção, mas o pouco que se viu valeu a pena…


Trata-se de uma obra simbólica do arquitecto Pardal Monteiro, inaugurado na década de 1950, é uma unidade hoteleira de luxo por excelência, curiosamente, penso que foi mandado construir por Salazar.


“Vista deslumbrante, múltiplos ambientes artisticamente decorados, bar e restaurante de referência e um dos mais luxuosos spas da cidade são marcas de um hotel ímpar.”
(www.lifecooler.com)

Edifício de linhas direitas e directas, transmite uma linguagem limpa e um requinte único, desvinculado da malha urbana e com uma escala de grande porte.



Continuando o passeio pedonal, e já com o cair da tarde, era grande a curiosidade de saber onde ficava situada a Igreja do Sagrado Coração de Jesus… pergunta atrás de pergunta, pessoa atrás de pessoa, ninguém nos sabia dizer onde era a igreja, no mínimo, constrangedor… já a ponto de desistir entrámos num bar e mais uma vez: ‘sabe dizer-nos onde fica a Igreja do Sagrado Coração de Jesus? ‘, Pergunta à qual o senhor respondeu, que realmente deveria ser por ali, mas não sabia onde… o desespero e a ‘esquisitice’ total.
‘bem, vamos então embora…’ retorquimos. Aquando começam a tocar sinos e nós, claro, fomos atrás do som! Subimos a estrada e, deparamo-nos com a igreja de onde advinha o som… a igreja ficava a 20metros do bar que referi…enfim, prosseguimos com a nossa visita.


É sem margem para dúvida uma construção carregada de excelência, é de um porte de riquíssimo requinte e bom gosto…





Este edifício transmite uma qualidade tremenda no panorama da arquitectura, onde se denotam princípios evidentes de uma arquitectura modernista – linhas simples, rigor formal, depuração ornamental.
Esta igreja mantém um diálogo muito íntimo com a cidade.





“A espaçosa igreja desenvolve-se num pequeno lote, e articula-se com outros edifícios de grandes dimensões, entre ruas bastante desniveladas entre si. O corpo principal e os anexos foram desta forma idealizados em vários níveis, que permitem articular os espaços do edifício com as artérias vizinhas, criando ainda percursos urbanos que valorizam a área envolvente, de acordo com o propósito expresso pelos autores, de «realizar a amarração à cidade». Os alçados são dinamizados através de uma sucessão de terraços e lances de escadas, e de superfícies verticais facetadas, desencontradas, ou em rampa, que alteram por completo a planta quadrada. O dinamismo do exterior, desmultiplicado e participante, mantém-se no interior do templo, onde os diversos espaços se distribuem de forma desnivelada. As naves, a cripta, e as galerias e balcões criam jogos de plataformas que encontram um ponto focal no altar-mor. Por fim, a utilização dos materiais "menos nobres" (betão armado e vidro) e as formas simplificadas da construção vêem responder ao anseio de renovação formal e religiosa. A Igreja do Sagrado Coração de Jesus constitui-se assim como um edifício admirável em si mesmo, e parte
fundamental da história da arquitectura moderna em Portugal, que de resto tanto deve a arquitectos como Teotónio Pereira.
(Sílvia Leite / DIDA / IGESPAR, I.P. / 14-08-2007) (www. Ippar.pt)

Esta obra é, a meu ver, um óptimo exemplo de comparação para com os ambientes criados por Zumthor.
A luz e as sensações que esta produz, para além de tantos outros adjectivos… a paz, o silencio, a serenidade, a vontade de estar ali…o jogo de altimetrias tão sensual e despojado de falsas visões sensoriais.
Os materiais remetem-me concomitantemente a uma comparação às obras de Peter Zumthor, com alguma particularidade, às termas de Vals, pelo seu requinte, pela sua linguagem formal e directa… a utilização dos materiais "menos nobres" (betão armado e vidro).
Mas, mais interiormente, ligo-a, impensadamente à capela rural Bruder Klaus… talvez pela luz, talvez, pela linguagem que transmitem ambas, pela elegância… torna-se um acto inadvertido da minha parte, não sabendo, eu própria, bem o porquê deste sentimento comparativo…

E aqui termina o nosso passeio, enriquecedor. Infelizmente a noite cai e não podemos ficar para o dia seguinte, buscando e ir ao encontro de mais maravilhas da arquitectura portuguesa…

(a caminho de casa, ainda em Lisboa, tivemos a oportunidade de vislumbrar alguns edifícios, anónimos, que se aproximavam da linguagem arquitectónica de Peter Zumthor, mas não houve tempo de fazer qualquer registo acerca destes…)


Visão pessoal acerca deste trabalho:
Optei por dar maioritariamente o meu ponto de vista pessoal, fazendo é certo, algumas referências literárias, como forma de enriquecer o meu trabalho, e, claro, dar e dar-me mais a conhecer, visto que, olhar, ver e sentir na realidade, por vezes não chega. É concludente saber mais, saber o passado, saber o porquê, saber como…saber o que não podemos adivinhar, o que não podemos concluir de imediato…
Aqui fica um registo das minhas opiniões, das minhas experiencias, enquanto estudante de arquitectura, enquanto futura arquitecta, enquanto pessoa, das minhas sensações, entre outros…


Um livro de viagens é isso mesmo… novas experiências, encontros inesperados, locais desconhecidos, mas sobretudo, um tempo em que nós estamos mais disponíveis. Disponíveis em todos os sentidos, tanto no aspecto de termos mais tempo para reflectir sobre nós e sobre as coisas que
nos rodeiam, como para observar e experimentar…
Relativamente à descrição das várias obras abordadas neste pequeno livro, não é feita, de facto, uma abordagem muito extensiva, nem são colocadas infindas fotos, porque, a meu ver, isto efectivamente não se trata de um trabalho de descrição ou um trabalho teórico, passo a expressão, além do mais essa informação, como por exemplo, nomes dos arquitectos, datas exactas, entre outros, está documentada, quer a nível literário, quer anível digital.

Portanto, e de uma forma sucinta, tento aportar um pouco a descrição de cada edifício particularmente tratado, mas depositar, essencialmente, o meu sentimento, o que me proporcionou cada um deles, e o porquê…

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